Surf Só para Meninas

//Surf Só para Meninas

Surf Só para Meninas

2018-10-22T08:44:09-03:0017/01/2017|Editorial|

Uma experiência de imersão, e não só nas ondas do mar. É para mergulhar de cabeça, e bem fundo, no lifestyle do surfe, com noções de boa alimentação, treinos físicos, aulas práticas e apresentação da filosofia que envolve a modalidade por quem conhece e vive do esporte. Essa é a rotina do Centro Itinerante de Treinamento da Brasil Surf Girls (BSG), uma casa que abriga somente mulheres surfistas em busca de aprendizado e aperfeiçoamento.

O projeto, idealizado por Mariana Vervloet em maio do ano passado, chega à segunda temporada ancorado na Praia da Macumba, no Recreio, e vai até 10 de março. A BSG House recebe participantes, convidadas e inscritas, de todo o país. Sem restrição de idade, já teve atletas de 14 a 40 anos.

Em meio a tanta diversidade, o que mantém o grupo unido é a paixão pelo esporte e a luta para conquistar mais espaço dentro e fora da água. A BSG busca fomentar o surfe feminino, investindo na preparação das atletas, e dar visibilidade à popularização do esporte entre as mulheres, chamando a atenção para a falta de patrocínio e de campeonatos, conta Mariana:

— Queremos formar atletas. Tem muito mais meninas na água agora do que há dois anos, até mesmo nas escolinhas. Acho que estamos mostrando isso, que mulher pode surfar. Recebemos de iniciantes a atletas, com professor individual para as que precisam. É para aprender a surfar e curtir também.

O ingresso na Brasil Surf Girls House é feito por meio de convite — neste caso, o treinamento é gratuito — ou da compra de pacotes de até uma semana, incluindo pernoite. O planejamento das atividades é feito por uma equipe multidisciplinar. Há aulas de surfe filmadas, treinos funcionais, ioga, skate, trilha, SUP e banho de cachoeira.

Julia Duarte foi uma das convidadas a participar na primeira semana. A surfista de 14 anos se destacou no campeonato Aberto de Surfe do Recreio, em dezembro, ao conquistar segundo lugar na categoria sub-14, terceiro na sub-16 e quarto na sub-18. Moradora do bairro, ela fez treinamentos a convite da equipe em diversos dias. Praticante do esporte desde os 11 anos, diz que seu desempenho melhorou graças às atividades:

— Primeiro me convidaram a passar um dia na casa e fiz treino funcional na areia, o que já me ajudou. Depois, surfei com um professor que me deu umas dicas boas e fiz trilha na Pedra do Telégrafo. Estou adorando. Comecei a mudar minha alimentação aqui também.

Além da sede no Rio, a BSG quer montar outras casas temporárias pelo país — daí o nome de centro itinerante. A ideia é ampliar a experiência das surfistas ao levá-las a novos lugares — e a novas ondas — dentro e fora do Brasil. A Praia da Macumba foi escolhida para sediar a casa por ter os melhores pontos de surfe da cidade, segundo Mariana Vervloet.

Nesta temporada, uma websérie será filmada e mostrada no Instagram oficial (@brasilsurfgirls) do grupo. Uma forma de divulgar os talentos recém-descobertos e, quem sabe, conquistar patrocinadores.

— O esporte precisa atingir a mídia para ganhar visibilidade — observa Mariana.

Vinda de São Paulo, Renata Canizares, de 24 anos, mudou-se para o Rio há três anos e conheceu o projeto no ano passado. Hoje, ela surfa e faz parte da equipe de marketing da BSG:

— Acredito que a nova geração não busca trabalhar num escritório e acumular bens materiais. Vejo meninas que passam pela BSG e largam o emprego para viver de seu sonho.

Para Gabrielli Dayma, de 29 anos, o lema do grupo, “O mar nos conecta”, faz jus às experiências na casa.

— Temos um grupo e sempre nos falamos. Na água, o clima é de muita cooperação, mais do que de troca, em que se dá para receber algo — diz a niteroiense, que há quatro meses se mudou para o Recreio e costuma comprar pacotes para surfar com o grupo.

Fonte: O Globo